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A Caverna dos sonhos esquecidos - O Cinema como desejo natural das faculdades humanas

  • Foto do escritor: calango xucro
    calango xucro
  • 9 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 17 de out. de 2024

A história do filme A Caverna dos Sonhos Esquecidos (2010), dirigido por Werner Herzog, pode ser uma entrada fascinante para explorar a relação entre o cinema e as faculdades humanas mais profundas de imaginação, narrativa e visualidade. A caverna de Chauvet, na França, descoberta em 1994 e que abriga pinturas rupestres com mais de 30 mil anos, é o cenário central do filme. Estas pinturas, algumas das mais antigas conhecidas pela humanidade, oferecem uma visão surpreendente de como nossos ancestrais pré-históricos se expressavam visualmente. Herzog explora essas imagens com uma sensibilidade que remete diretamente às origens do cinema.


Desenhos de animais em parede da caverna de Cheuvet.
Desenhos realizados há cerca de 30 mil anos, até hoje bem conservadas. Wikiemdia Commons / Thomas T.

O cinema, como forma de arte e tecnologia, na verdade sempre existiu potencialmente no ser humano. Os desenhos da caverna de Chauvet não são apenas representações da realidade; são, de certa forma, filmes primordiais. Esses desenhos, ao usar a ilusão de movimento em animais sobrepostos, capturam a essência do que o cinema moderno faz: criar uma narrativa visual que brinca com o tempo e o espaço. Eles são projeções dos sonhos e da imaginação de nossos antepassados, em uma tentativa de capturar a vida em sua plenitude. Herzog reconhece essa continuidade e, em seu filme, mergulha a câmera nas profundezas dessa caverna, oferecendo ao espectador um elo direto entre as primeiras representações visuais da humanidade e o cinema como o conhecemos hoje.


A Caverna e o Cinema: O Cinema Dentro de Nós


Uma das maneiras mais poderosas de conectar o cinema às faculdades humanas é perceber que a ideia de 'imagem-movimento' já estava presente na arte pré-histórica. As figuras sobrepostas de animais, em diferentes estágios de movimento, mostram que os seres humanos primitivos já tinham uma compreensão da sequencialidade visual – algo que é fundamental para o cinema. A técnica de desenhar vários estágios do movimento de um animal em uma superfície estática pode ser vista como uma precursora da animação, ou da própria ideia de sequência visual que, séculos mais tarde, seria capturada pela câmera.


Através dessas imagens, percebemos que o desejo humano de capturar a realidade, de congelar o tempo, de narrar histórias visuais, já estava presente muito antes da invenção da câmera. O que o cinema fez, e faz até hoje, é realizar esses antigos sonhos com o auxílio da tecnologia. O aparato cinematográfico – a câmera, a projeção da imagem, o filme – nada mais é do que a materialização de um desejo humano antigo: o desejo de simular o mundo em movimento, de capturar o tempo, de criar narrativas visuais que transcendam o momento presente.


A Tecnologia do Cinema: A Realização do Sonho Humano


O cinema, enquanto realização técnica e artística, pode ser visto como a evolução natural dessas primeiras representações visuais. Enquanto os artistas da caverna de Chauvet trabalhavam com as ferramentas que tinham à disposição – paredes de pedra, carvão, pigmentos naturais –, os cineastas de hoje utilizam câmeras, lentes, softwares de edição e efeitos visuais. Mas a intenção subjacente é a mesma: contar histórias, capturar o movimento e, acima de tudo, comunicar experiências humanas através de imagens.


Herzog, com seu olhar contemplativo e filosófico, sugere que o cinema não é apenas uma invenção moderna, mas uma extensão das faculdades humanas mais primitivas e profundas. Ele vê as pinturas nas cavernas como uma forma de narrativa, uma forma de comunicação visual que ecoa a própria essência do cinema. E de fato, quando olhamos para as imagens de Chauvet, percebemos que a humanidade já sonhava com o cinema antes mesmo de saber o que era uma câmera.


O Aparelho e a Realização do Sonho


Com a invenção do cinema no final do século XIX, o sonho humano de criar imagens em movimento finalmente se materializou. A câmera foi o aparato que possibilitou a captura real do movimento e do tempo. Quando pensamos em Lumière, Edison, Méliès – pioneiros do cinema – percebemos que o que eles estavam realizando era o desejo primordial dos humanos de Chauvet: ver o mundo com novos olhos, criar histórias que transcendessem a barreira do tempo e do espaço.

A invenção da câmera não foi apenas uma inovação técnica; foi a realização de um sonho. A criação de um aparato capaz de registrar o movimento trouxe à tona o que já estava latente na mente humana: a vontade de prolongar a experiência sensorial, de transformar o mundo visível em narrativas visuais que, de certa forma, são sonhos realizados. Quando Herzog filma as pinturas de Chauvet, ele conecta o passado ao presente, mostrando que o cinema, como qualquer arte, nasce do desejo humano de capturar, reproduzir e refletir a experiência do mundo.


Conclusão: O Cinema Como Continuação do Sonho Humano


A Caverna dos Sonhos Esquecidos nos lembra que o cinema, com toda sua complexidade técnica e estética, está profundamente enraizado nas capacidades humanas mais antigas de imaginação e representação. Os desenhos nas paredes de Chauvet são a prova de que, mesmo em tempos pré-históricos, já havia o desejo de criar uma sequência visual, de contar histórias através de imagens. A câmera e a técnica cinematográfica não são mais que a continuação natural desse desejo.

Portanto, cabe refletir um pouco sobre a longa jornada da arte visual e do cinema, desde as pinturas rupestres até a era digital. O cinema, afinal, é uma forma de concretizar um sonho antigo: a vontade de capturar o movimento, de contar histórias com imagens e de eternizar aquilo que, de outra forma, seria efêmero. Como diria Herzog, ao final, a caverna de Chauvet e o cinema estão conectados pela linha invisível do desejo humano de ver, representar e lembrar.


Essa abordagem faz a ponte entre a história do cinema e a humanidade, mostrando que a tecnologia cinematográfica foi o ponto culminante de um processo de representação visual que começou muito antes da invenção da câmera.

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